A Cruz Alta, junto à Igreja da Santissima Trindade, em Fátima, ostenta uma figuração estilizada do corpo de Cristo. Eliminada qualquer pretensão realista, abandonada a espessa fisicalidade dos Cristos barrocos, esculpidos ou pictóricos, sobre a imponente e esguia cruz exterior o que se contempla é um diagrama de aço. Ou seja, a obra do artista alemão Robert Schad resume a figura humana em várias linhas quebradas convertidas no símbolo de qualquer vítima de crucifixão. Isto em contraste com a corpulência que caracteriza o Cristo rebelde de olhos exorbitados suspenso sobre o altar-mor daquele templo idealizado pela escultora irlandesa Catherine Green. Ora ao "desencarnar" a evocação de Cristo, o artista alemão parece temer a acusação de instigador de idolatrias e, consequentemente, abeirar-se da atitude iconoclástica típica dos primeiros séculos do cristianismo. Como aproximar-se da tradição que, entre o século VIII e o IX, se impôs como linha dominante no Império bizantino. E que o protestantismo, séculos mais tarde, virá igualmente a recuperar. Será, pois, que esta despojada e abstratizante teologia da imagem esboçada no Cristo da Cruz Alta virá um dia a generalizar-se perante o desafio decorrente de uma mais instruída e exigente comunidade de fiéis e a progressiva e inevitável interiorização do sentimento religioso ?