Humor e liberdade de expressão
Se em épocas de gigantescos conflitos bélicos, vimo-lo a propósito da Grande Guerra, o humor é usado como arma de propaganda, em tempo de paz, a irreverente, crítica e mordaz modalidade expressiva - que também é um meio generalizado de recreação e liberdade -, pontua com maior ou menor incidência o dia a dia de cada um.
Na vida pública, nas pugnas ideológicas e na luta política, no àmbito de variadas plataformas (jornais, meios audiovisuais, manifestações plásticas), a sua evidência é insofismável, necessária e proliferante.Todavia, percorrendo uma escala que vai da singela e amável paródia à ironia acutilante ou à sátira mais verrinosa, o humor, num crescendo incontrolado de violência simbólica, pode alcançar níveis de extrema agressividade. Tantas vezes, numa monótona e recorrente insistênsia, maltratando, ofendendo e ferindo o destinatário elegido para o exercício, e daí pondo em risco as estruturas emocionais indispensáveis à convivência entre pessoas, comunidades e países.
Neste quadro, e em democracia, uma reavaliação do princípio axial da liberdade de expressão e dos seus inerentes limites é, pois, uma tarefa sempre em aberto. Tanto mais que no mundo desregulado e multipolar em que vivemos - imersos numa "civilização da imagem" em que díspares quadros mentais se entrechocam num mesmo espaço de cidadania -, o debate é urgente e incontornável. Sobretudo em matéria de humorismo gráfico, instrumento particularmente expeditivo, contundente e fracturante. E por vezes brutal. São pois temáticas que nos propomos discutir aqui nos debates da Casa da Eira.
P. S. Em Portugal, no que toca ao humor gráfico, podem consultar-se diversas colectâneas de caricaturas e de cartoons editadas no âmbito dos festivais organizados por diferentes municipalidades (Cascais, Amadora...), e em particular os títulos relativos aos que são promovidos pelo Museu da Imprensa, no Porto.